O TEXTO ABAIXO, NÃO É DA MINHA AUTORIA MAS, COMO SE INSERE NO PRINCIPIO DESTE BLOGUE, AQUI FICA REGISTADO, COM OS DEVIDOS AGRADECIMENTOS AO SEU AUTOR.
HÁ MUITOS OUTROS, RELATOS ESPLAHADOS POR VÁRIOS LOCAIS NA INTERNETE, QUE, LOGO QUE COMPILADOS, AQUI SERÃO PUBLICADOS. AGRADECE-SE A TODOS QUE TENHAM CONHECIMENTO, PARA QUE OS PUBLIQUEM NO ESPAÇO APROPRIADO - OU ENVIAR POR E-MAIL PARA mariotitodoalcaide@gmail.com"
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COLUNISTA & CORRESPONDENTE EM LISBOA
Daniel dos Santos, colunista e correspondente da FORCV em Lisboa, é mestre e doutorando em Ciência Política e Relações Internacionais. É jornalista, professor universitário de profissão e investigador em Ciência Política, Comunicação e Marketing Político.
Atenção: As opiniões expressas pelos colunistas não representam a posição da FORCV. Elas apenas traduzem o ponto de vista dos mesmos. Na realidade, a FORCV está aberta a publicar artigos de opiniões de diferentes colunistas com o intuíto de apresentar diversos pontos de vistas aos nossos leitores. Por isso, convidamos pessoas interessadas a enviar artigos de opiniões para editor@forcv.com. Obrigado(a).
3 de Agosto de 1959 – 3 de Agosto de 2009. Já se passaram 50 anos, completados, 2ª feira última, sobre a data em que tropas portuguesas reprimiram, violentamente, no início da tarde, um numeroso grupo de estivadores cujo único crime era o de terem apenas reivindicado, no cais de Pidjiguiti, em Bissau, melhores condições salariais e de vida.
Eram duas horas. Os marinheiros, insatisfeitos com a decisão da Casa Gouveia, ao tempo, administrada por António Carreira, historiador, natural da ilha do Fogo, a qual se recusou a atender às suas reclamações, ao contrário dos outros estabelecimentos comerciais, nomeadamente, a NOSOCO, a Eduardo Guedes, a Ultramarina e a Barbosas & Comandita, iniciaram uma greve sem fim à vista.
A pacífica manifestação começou a ser preparada em Maio, depois de algumas reuniões secretas, no ilhéu do Rei e no Alto Bandim. Mal começou a greve, o patrão-mor encaminhou, de imediato, os estivadores à capitania para os identificar, três dos quais, vistos como cabecilhas, foram levados, por um chefe da brigada da PIDE, para as oficinas navais.
Perante o facto, os trabalhadores ficaram ainda muito mais revoltados, obrigando a polícia a fechar os portões a fim de impedir que libertassem os seus três companheiros detidos nas oficinas navais. Os ânimos exaltaram e, temendo perder o controlo da situação, como acabaria por se verificar, o 2º comandante da PSP viu-se impelido a solicitar mais reforços. Neste ínterim, o ambiente agravou-se, depois de um agente da polícia ter dado bofetadas a um marinheiro que o ameaçava com um ferro.
Instalada a confusão, os estivadores receberam à pedrada os reforços policiais chegados ao cais. Impotentes para suster os protestos, as forças da ordem, a mando do comandante militar da Guiné, Luís Alberto Felipe Rodrigues, começaram a disparar, indiscriminadamente, sobre os manifestantes. Resultado: um autêntico massacre, no qual tomaram parte, além de militares portugueses, muitos civis, com as suas próprias armas.
Curiosamente, faz-se necessário dizer que Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa, Constantino Teixeira, Rui Djassi, Inocêncio Kani, entre tantos outros, que, mais tarde, se tornaram destacados combatentes e dirigentes do PAIGC, faziam parte das tropas portuguesas que reprimiram, no fatídico dia, os cerca de cem grevistas, no cais de Pidjiguiti.
Do confronto brutal entre os militares portugueses e os marinheiros manjacos resultaram muitas baixas, cujo número exacto está longe de ser consensual. Para o Comando Militar da Guiné, «do lado dos grevistas, há a contar 7 mortos e cerca de 20 feridos e 20 prisioneiros», ao passo que dois subchefes e um guarda da PSP ficaram feridos, enquanto o Comando da Defesa Marítima «regista nove marítimos mortos, 16 feridos, um dos quais é o chefe da polícia, e 23 presos».
Num primeiro telegrama enviado a Lisboa, o governador corroborou a existência de sete mortos, cinco feridos graves, 11 ligeiros, embora, num segundo, tenha aumentado o número para 10, em consequência do falecimento de mais três marinheiros, devido a graves ferimentos. Outros, como Mário Dias, garantem que se registaram, em Pidjiguiti, 16 mortos no decurso da violenta refrega.
O PAIGC, em 1960, falava de dezenas de mortos. No memorando que expediu, no final desse ano, ao governo português, escreveu, vagamente, que «(…) militares e civis portugueses mataram a tiro dezenas de trabalhadores guineenses em greve (…)». Mais tarde, corrigiu os números, aumentando-os para 50. Quer Luís Cabral, quer Aristides Pereira, quer Amílcar Cabral são concordes neste ponto, embora o último se tenha referido, volvidos dois meses do celebérrimo massacre, em carta a Lúcio Lara, do MPLA, a 24 mortos e a 35 feridos.
A somar a este dado, à PIDE chegara um outro segundo o qual Amílcar Cabral informou a Kwame N´Krumah, ex-presidente do Gana, de que «a polícia da Guiné matou sete grevistas e ferido cinco que tinham pedido aumento de salários». Em carta ao PDG, datada de 31 de Agosto de 1959, o Movimento Anticolonial (MAC) falava da existência de 30 mortos e de mais de 250 prisioneiros.
As autoridades militares, em documentos secretos, não têm dúvidas de que, afora as reivindicações salariais, «a arbitrariedade dos empregados da Casa Gouveia» constitui uma das principais causas dos incidentes de 3 de Agosto, na base dos quais estava, em sua opinião, o administrador António Carreira. Além do mais, entendem que o agravamento dos tumultos se deu «devido à falta de preparação dos agentes da PSP, que, impotentes para actuar de outra forma, fizeram uso das armas de fogo». Um agente dos serviços secretos portugueses criticou o uso da força, que, em seu entender, atingiu proporções desnecessárias, admitindo que existiam, com efeito, razões para o descontentamento dos marinheiros de Bissau.
Hoje, é líquido que a greve de Pidjiguiti não tinha motivações políticas. As autoridades coloniais, em, pelo menos dois relatórios secretos do exército português, acreditavam que por detrás da manifestação estavam Benjamim Correia, rico comerciante, a quem mesmo acusavam de ser o «elemento oculto» dos protestos, Silva Marques, administrador de Bissau, e os cabo-verdianos Tavares de Sousa e Mário Lino Wahnon, ambos do Conselho do Governo da Guiné.
Embora a greve não tivesse cariz político, o Movimento de Libertação da Guiné (MLG) e o PAIGC sempre tentaram tirar partido dela, reclamando, injustificadamente, a sua autoria. Não cremos que o MLG, enquanto partido, tivesse alguma coisa que ver com a manifestação, embora admitamos que alguns dos seus militantes, por conta própria, tivessem instigado os estivadores aos protestos.
Quanto ao PAI, as coisas são mais fáceis de explicar. Em 3 de Agosto de 1959, ainda não existia. Ademais, Amílcar Cabral vivia em Angola, quando ocorreu o massacre de Pidjiguiti e dele só se inteirou no dia seguinte, quando, ao passar, em companhia de Gabriel Leitão, por um quiosque, no aeroporto de Luanda, comprou um jornal, de cuja leitura, já em pleno voo, para Lisboa, tomou conhecimento do que acontecera um dia antes, em Bissau. Habilmente, porque era um animal político, de fino tacto, usou depois o massacre de Pidjiguiti como mito fundador do PAIGC.
Cinquenta anos depois, urge refazer, de modo imparcial e objectivo, a história de tudo quanto ocorreu em 3 de Agosto de 1959, no cais de Bissau. Cremos que é já chegada a hora de a verdade vir ao de cima a fim de permitir que a história se reencontre consigo própria, enterrando de vez as inverdades e as falsidades que a inundam, não com o intuito de se ajustar contas com "a" ou com "b", mas, unicamente, para colocar os pontos nos iis.
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NOTA DO EDITOR DO BLOGUE:
Que Amilcar Cabral não foi o Fundador do PAIGC, já eu sabia há muito tempo. Mas, tudo bem, no conjunto geral da história. O problema foi "O QUERER-SE ROMANCIAR" a filosofia e feitos do próprio Amilcar. Ora, se a verdade incomoda, porque é que sempre se tenta procurar a mesma verdade?
Tal como o autor do texto acima diz...
"SOMENTE PARA COLOCAR OS PONTOS NOS iiis!
Há que ter em conta que, no conjunto geral, falta ver escrito pelos vários entendidos, a realidade da vida vivida pelos guineenses, enquanto debaixo do domínio dos portugueses e, DE REPENTE, após a luta armada, debaixo do domínio DOS CABOBVERDEANOS - filhos de portugueses ou outros chamados brancos, que se cruzaram com nativas africanas ou já em si mesmo de origem de inter-relação existente, numa espécie de "falta o pai, fica o filho como capataz"!...
Sejamos honestos!!!
Os Guineenses detestavam os caboverdeanos - não por eles serem de Cabo Verde porque, há lá muito boa gentinha - por representarem a força opressiva do homem branco. Até mais! Os guineenses tinham mais aversão ao "mesitço" (sem ofensa) do que ao próprio branco. Razões?
Pois...o "mestiço" até poderia vir a ser "um deles" mas...pela sobranceira com que olhavam para o "nativo"... nunca se sabia se era ou não era um deles. A diferença estaria nas aitudes e acções do passado, originando que o guineense visse com mais apreenção tudo o que viesse do mestiço do que do próprio branco. Mais uma vez, a palavra mestiço, é somente para abreviar o sentido que se pretende. Não é de modo algum com intenção de ofender.
Entretanto, durante a guerra, a disparidade de trato, foi o que foi mas...não é hoje que se adiantrá algo nesse sentido. Talvez algum dos leitores tenha alguma coisa a dizer e possa comentar no espaço apropriado mais abaixo.
Abraço a todos.
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